Já
tratamos aqui sobre um acontecimento envolvendo cientistas japoneses e uma
descoberta que aparentemente daria novos rumos à medicina regenerativa (clique aqui para ler a matéria). A história que no começo foi tratada como
fraude, mas no fim não passou de inexperiência, cabe bem ao assunto desse post.
A
ética na pesquisa científica é algo que por vezes se mantém longe de
discussões, e só volta a ser mencionada quando algo polêmico aparece, como
publicação de artigos com dados inverídicos, ou mesmo o que podemos chamar de corrupção,
quando o grupo de pesquisa acaba por se tornar uma fábrica de artigos sem
qualidade.
A
Revista Fapesp do mês de maio trouxe nas suas páginas iniciais uma matéria
muito interessante sobre isso. Em abril deste ano, as Academias Nacionais de
Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos criaram um relatório com 11
recomendações para que os problemas envolvendo a ética sejam diminuídos, e para
que os indícios de má conduta sejam investigados.
É
difícil acreditar que, também na ciência, há chantagens e propostas antiéticas
ligadas à ação fraudulenta de empresas e instituições que se propões a ajudar
pesquisadores a publicar artigos ou prestam consultoria sobre ética na
pesquisa. Um caso que retratada essa situação é o de uma empresa chinesa de
redação científica que propôs ao editor da revista Diabetic Medicine, Richard
Holt, o que eles chamaram de “negócio colaborativo”. Nesse “negócio”, Richard
receberia US$ 1 mil por artigo aceito para publicação. Eles argumentavam que
era difícil para médicos chineses publicarem em revistas de prestígio,
principalmente por barreiras linguísticas e, portanto, pediram para que o
editor os ajudasse com isso. Entretanto, Holt respondeu que isso se tratava de
um ato antiético e encaminhou o caso ao Cope (Committee on Publication Ethics),
um fórum de editores com sede em Londres que trata de temas ligados à
integridade científica.
E
o paper inspirado em seriado de comédia? Pois é. A revista Urology &
Nephrology Open Acess Journal publicou um artigo assinado pelo Dr. Martin van
Nostrand, sobre um estudo de caso de uma doença chamada “uromycitisis”, doença
que fazia com as pessoas fossem obrigas a urinar quando sentissem vontade,
mesmo em locais públicos, caso contrário poderiam morrer. O problema é que esse
tal Dr. Nostrand era um pseudônimo criado por um dos personagens de uma série
de ficção que se passava por médico em alguns episódios, e a uromycitisis
também era fruto da imaginação do comediante que escreveu a séria, Jerry
Seinfeld, em que o personagem principal precisava inventar uma desculpa para o
policial que o flagrou urinando em uma garagem.
Está
mais do que clara a importância de se utilizar a ética na divulgação
científica. É a partir de um artigo que outros são gerados, que descobertas são
feitas e que vidas podem ser mudadas.
Para ter acesso às recomendações das Academias Nacionais de
Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos, acesse: www.nap.edu/21896
Fonte: A
importância de dar um passo adiante. Maio 2017. Revista Fapesp, n.255, p.8-10.