Já ouviu falar desse distúrbio?
A Crioglobulinemia é um distúrbio caracterizado
pela presença de crioglobulinas no sangue. As crioglobulinas são
imunoglobulinas, ou anticorpos, dos tipos IgM e IgG que se aglomeram e se
tornam insolúveis nas regiões do organismo onde a temperatura é fria, ou seja,
onde a temperatura fica abaixo de 36,5ºC. Sendo assim, nas regiões periféricas
do corpo e nas regiões que atingem tal temperatura inferior, as crioglobulinas
se aglomeram, podendo portanto, impedir a circulação sanguínea causando
vasculites. Por esse motivo, manchas arroxeadas podem aparecer na pele e
apresentar o que chamamos de púrpura.
Figura 1: Púrpura palpável no membro inferior
direito. Fonte: DENTI PIANA, Marjana Denti Piana et al. 2018.
Além da pele, esses agregados podem aparecer em outros órgãos como no fígado e nos rins comprometendo o seu funcionamento. Veja a figura 2 abaixo que demostra como essas crioglobulinas se apresentam na temperatura inferior a 36,5ºC in vitro.
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Figura 2: Agregados de imunoglobulinas que lembram uma textura gelatinosa em temperatura inferior a 36,5ºC in vitro, nesse caso após uma coleta para realização de hemograma. Fonte: arquivo pessoal Amanda Sardeli Alqualo Assaf.
Para realizar exames que dependam de coleta de
sangue total nos pacientes que apresentam crioglobulinemia, é necessário que
imediatamente após a coleta os tubos sejam inseridos em um recipiente com água
quente com temperatura superior a 37ºC, e imediatamente deve-se realizar o
exame. No caso de um hemograma por exemplo, deve-se realizar a leitura
automatizada imediatamente após a coleta assim como a confecção da lâmina para
leitura diferencial das células, caso contrário, o exame é impossibilitado de
ser realizado pela presença dos agregados.
Quais as causas mais frequentes
da crioglobulinemia?
Estudos recentes têm associado a crioglobulinemia a
infecção crônica por Hepatite C. Sabe-se que está associada a doenças como
leucemias e mielomas, doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatóide,
pneumonia por Mycoplasma ou glomerulonefrite
causada por Streptococcus sp.
A crioglobulina, no entanto, é produto da ação do
sistema imunológico em algumas doenças que causam danos aos tecidos do
paciente. No caso da infecção crônica por Hepatite C, acontece uma proliferação
exagerada de linfócitos B que leva uma expansão e clonagem de crioglobulinas
produzidas por esses linfócitos.
Os agregados formados superam o sistema imunológico
com ação dos fagócitos, ou seja, tais células não conseguem fagocitar esses
agregados em velocidade hábil para eliminação total, causando portanto depósito
dessas crioglobulinas nos tecidos, que consequentemente, causarão lesão.
As manifestações das crioglobulinas podem durar
semanas com recorrências mensais, ou podem ser contínuas nos casos mais
severos.
Qual é o exame específico para detecção da crioglobulina?
O exame deve ser solicitado pelo médico como
pesquisa de crioglobulina. O sangue total deve ser colhido em tubo de vidro sem
qualquer aditivo ou anticoagulante, essa amostra deve ser transportada a 37ºC e
deve ser colocada em banho-maria a 37ºC para coagular, após coagulação, deve-se
centrifugar a amostra e separar o plasma, cerca de 1 mL para incubação a 37ºC e
1 mL para incubação a 4ºC durante 72 horas até no prazo máximo de uma semana.
Após esse período ao analisar macroscopicamente a amostra, deve-se observar a
presença de um precipitado de coloração branca no tubo que foi incubado a 4ºC,
esse precipitado portanto, indicada a presença de crioglobulinas.
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Figura 3: Observação de crioprecipitado após 72 horas de incubação.
Fonte da imagem: askhematologist.com |
Tipos de crioglobulinemias:
· Tipo 1:
Formadas por imunoglobulinas monoclonais isoladas, geralmente formadas pela
imunoglobulina do tipo M ou G (IgM ou IgG). Podem causar problemas renais
associado principalmente a mieloma múltiplo;
· Tipo 2:
Formadas por imunocomplexos de imunoglobulina monoclonal IgM ou IgA com
imunoglobulina policlonal IgG, apresenta atividade de fator reumatóide e é
associada a infecções por Hepatite C e HIV;
· Tipo 3:
Formadas por imunocomplexos de imunoglobulinas policlonais apenas, sem a
presença de monoclonais, são associadas a doenças autoimunes como lúpus, mas
podem também aparecer em doenças infecciosas.
Tratamento
O tratamento é basicamente a administração de
medicamentos imunossupressores. Porém o tratamento deve ser individualizado com
estudo de caso de cada paciente. O melhor tratamento para cada paciente é com
base nos estudos das causas da crioglobulinemia, como por exemplo, nos casos
onde o paciente apresenta uma hepatite C, deve-se tratar a infecção viral. O
rituximabe associado ao uso de interferon a pode ser indicado para o tratamento
nos casos de manisfestação de crioglobulinas pós infecções virais.
Importante: Sempre procure um médico para realizar
qualquer tipo de tratamento a doenças, no caso da crioglobulinemia procure um
hematologista ou reumatologista.
Referências:
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http://dx.doi.org/10.1016/S0140- 6736(11)60242-0. PMid:21868085.
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2021
SHACHAF, Shiber; YAIR, Molad. Correlação entre a
síndrome antifosfolipídica e a crioglobulinemia: série de quatro casos e
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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0482-50042016000100002&lng=en&nrm=iso>.
access on 13 Apr. 2021. https://doi.org/10.1016/j.rbr.2014.09.005.
DENTI PIANA, Marjana Denti Piana et al.
Crioglobulinemia: relação entre hepatite C e glomerulonefrite. Clinical
& Biomedical Research, [S.l.], v. 38, n. 2, july 2018. ISSN 2357-9730.
Available at: <https://seer.ufrgs.br/hcpa/article/view/78671>.
Date accessed: 13 apr. 2021
https://askhematologist.com/cryoglobulinemia/#ixzz6rvaMkJEw Accessed:April
2021
Dammacco F, Sansonno D. Therapy for Hepatitis C
vírus-related cryoglobulinemic vasculitis. N Engl J Med. 2013;369(11):1035-45.
http:// dx.doi.org/10.1056/NEJMra1208642. PMid:24024840.
Tive que compartilhar sobre o assunto, é um distúrbio raro, por isso os analistas devem saber da existência caso apareça no laboratório
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