A
análise inicial das culturas em um laboratório de microbiologia é extremamente
importante. A observação quanto ao tipo de material semeado, ao meio de
cultura, às informações dos pacientes, e características das colônias deve ser
cuidadosa. Muitos espécimes clínicos possuem microrganismos como microbiota
habitual, mas “nunca sem boas razões admita um microrganismo como contaminante
porque ele não é um patógeno aceito. Nunca sem voas razões aceite um
microrganismo como a causa de uma doença infecciosa meramente porque é um
patógeno aceito”.
Por
isso, vamos tratar do início de uma análise microbiológica, passo muito
importante para um bom resultado final. Esta postagem será baseada no livro “Procedimentos
Básicos em Microbiologia Clínica”, Oplusti, C.P. et al., um excelente livro escrito que conta com uma biomédica como
uma de suas autoras.
MATERIAIS
CLÍNICOS
Existem
alguns materiais clínicos habitualmente estéreis, em que a presença de
microrganismos geralmente indica infecção ou em alguns casos, contaminação de
coleta. Outros materiais contam com uma microbiota (nomenclatura atual para “flora”)
habitual, e neste caso, é necessário valorizar apenas bactérias que potencialmente
podem causar a infecção.
As
amostras clínicas que geralmente apresentam-se estéreis são:
·
Sangue;
·
Líquor;
·
Biópsias;
·
Líquido
pleural, pericárdico;
·
Líquido
sinovial;
·
Medula
óssea.
As
amostras clínicas que geralmente apresentam microbiota habitual ou colonização
são:
·
Amostra
do trato respiratório superior;
·
Amostra
do trato respiratório inferior;
·
Fezes;
·
Secreções
do trato genital.
Alguns
microrganismos são mais frequentes a serem considerados patógenos em alguns
tipos de materiais clínicos que apresentam microbiota habitual. Isto não
significa que outros microrganismos possam causar infecção. Depende também do
quadro clínico do paciente. Abaixo temos alguns exemplos:
·
Staphylococcus aureus: comum em amostras de escarro
(principalmente em pacientes hospitalizados), secreção traqueal, secreção
vaginal, secreção uretral, secreção de orofaringe (exceto em paciente com
fibrose cística), secreção de orelha, aspirado de seio maxilar, secreção
conjuntival e urina de primeiro jato (quando estiver predominando).
· Streptococcus agalactiae: secreção vaginal (microrganismo de suma
importância em gestantes, sendo o material coletado o de introvaginal ou
anorretal), secreção uretral, secreção conjuntival (importante em
recém-nascidos), urina de primeiro jato.
· Haemophylus influenzae: escarro, secreção traqueal, secreção
vaginal (importante em crianças), secreção de orofaringe (exceto em pacientes
com fibrose cística), secreção de orelha, aspirado de seio maxilar, secreção
conjuntival.
· Streptococcus pneumoniae: escarro, secreção traqueal, secreção
de orofaringe (quando houverem colônias predominantes e em grande quantidade), secreção
de orelha, aspirado de seio maxilar, secreção conjuntival.
· Streptococcus pyogenes: secreção vaginal (importante em
crianças), secreção de orofaringe, secreção de orelha, aspirado de seio maxilar
e secreção conjuntival.
· Moraxella catarrhalis: escarro, secreção traqueal, secreção
de orelha, aspirado de seio maxilar.
· Enterobactérias:
escarro (importante em pacientes hospitalizados), secreção traqueal, secreção
vaginal (importante em crianças), secreção uretral (quando estiver presente em
quantidade ≥104 UFC/ml ou predominando), aspirado de seio maxilar,
urina de primeiro jato (quando estiver predominando).
· Pseudomonas spp.: escarro (importante em pacientes
hospitalizados e com fibrose cística), secreção de orelha, secreção conjuntival
(importante em usuários de lentes de contato).
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Pseudomonas aeruginosa (colônia superior). Fonte: Google. |
· Neisseria gonorrhoeae: secreção vaginal, secreção uretral, secreção
conjuntival (importante em recém-nascidos), urina de primeiro jato.
IDENTIFICAÇÃO
DAS COLÔNIAS
Para
a identificação das colônias, o primeiro passo é verificar o crescimento nas
placas, observando as características morfológicas nos diferentes meios de
cultura, as reações das bactérias nestes meios, a produção de odor, coloração,
crescimento ou inibição de crescimento nos diferentes tipos de meios de cultura.
·
Características
morfológicas das colônias
É importante analisar as colônias quanto ao
tamanho (diâmetro), bordas ou formas, elevação, cor, densidade, consistência e
aparência da superfície da colônia. Por exemplo, a Klebsiella pneumoniae se apresenta como uma colônia grande e gomosa.
O Streptococcus pyogenes se apresenta
como uma colônia pequena.
·
Reações
em determinados meios de cultura
Os
meios de cultura utilizados devem ser pensados para a rotina de cada
laboratório, pois eles ajudam na triagem inicial das culturas. Meios comuns
como AS (Ágar Sangue), MC (MacConkey) e SS (Salmonella-Shigella) possibilitam que
identifiquemos algumas bactérias inicialmente pela morfologia e reações provocadas
nos meios de cultura. O AS é um meio de cultura produzido geralmente com sangue
de carneiro, com hemácias íntegras, o que proporciona a formação de hemólises
pelos cocos gram positivos. Elas são classificadas da seguinte forma:
· Hemólise
total (β-hemólise): representada por uma zona clara ao redor das colônias.
· Hemólise
parcial (α-hemólise): há formação de um halo esverdeado ao redor das colônias,
indicando hemólise parcial das hemácias presentes no meio.
· Ausência
de hemólise (γ-hemólise): o meio permanece íntegro ao redor das colônias.
Em
relação aos pigmentos, as colônias podem se apresentar em cores diferentes de
acordo com a composição do meio, e isso ajuda na identificação. Alguns
exemplos:
·
Amarelo
: Staphylococcus aureus no AS.
·
Mostarda:
Chryseobacterium spp. no AS.
·
Vermelho/Laranja:
cepas de comunidade de Serratia spp.
no MC.
·
Verde
metálico com centro preto: Escherichia coli no EMB.
Há
meios específicos para bacilos gram negativos, já que se isolados em AS, são
muito parecidos. O MC e o SS são meios específicos e são amplamente utilizados
para tal identificação. No MC, as bactérias que consomem a lactose (lactose
positivas) ficam rosa, assim como a Escherichia
coli e a Klebsiella pneumoniae. O
Proteus spp. possuem colônias claras
(lactose negativa), e a Pseudomonas
aeruginosa produz uma colônia esverdeada. No SS, as colônias pretas são de
bactérias que produzem H2S, facilitando a identificação de Salmonella spp. em amostras de fezes.
Existem
meios cromogênicos, para bactérias e fungos leveduriformes, e a identificação é
facilitada também pela diferenciação das cores. Um exemplo é o meio cromogênico
da Plastlabor®, em que a E.
coli cresce como uma colônia rosa, e a K.
pneumoniae, o Enterobacter spp, e
o Citrobacter spp, azul.
·
Produção
de odor
As
bactérias também produzem odor, e essa característica pode auxiliar o
microbiologista na identificação. É importante ressaltar aqui que não deve-se
cheirar diretamente a placa, mas sim, abrir a placa na distância do braço
estendido e sentir de longe o dor emanado. Bactérias como Neisseria meningitidis, Brucella
e Burkholderia pseudomallei não
devem ser cheiradas, pois são altamente patogênicas. Segue alguns exemplos de
odores produzidos pelas bactérias:
·
Odor
de uva: Pseudomonas aeruginosa.
· Odor
de água sanitária: Haemophylus influenzae,
Shigella spp. e Eikenella corrodens.
·
Odor
de fermento de pão: Klebsiella pneumoniae
e Candida spp.
·
Odor
de vinagre: Escherichia coli.
·
Odor
de queijo: Staphylococcus spp. (S. aureus).
·
Odor
de terra molhada: Streptomyces spp., Nocardia
spp.
·
Odor
de peixe: Acinetobacter spp.
(principalmente em AS).
·
Odor
de caramelo: Enterococcus spp. e
alguns Streptococcus do grupo
viridans.
·
Odor
fétido: suspeitar de bactérias anaeróbicas.
Outras
características apresentadas por testes mais específicos são utilizados para a
identificação, manual ou automatizada, das bactérias. Mas isso é assunto para uma
próxima postagem. Por hoje, é só!
Se tiver alguma dúvida, sugestão ou comentário, deixe aqui
embaixo ou mande um e-mail para biomedemacao@gmail.com.br.
Bibliografia:
Oplustil, C. P. et al. Procedimentos básicos em microbiologia clínica. 3ª ed.
São Paulo : SAVIER, 2010.
As imagens do post foram retiradas do aleatoriamente do Google, para simples ilustração. Algumas são de arquivo pessoal.
As imagens do post foram retiradas do aleatoriamente do Google, para simples ilustração. Algumas são de arquivo pessoal.
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