Recentemente
um paciente internado na UTI do Hospital onde trabalho fez o teste de PCR para
diagnóstico do SARS-CoV-2 pelo material de swab naso-orofaríngeo e o
resultado foi negativo. Devido à discrepância da clínica do paciente com o resultado,
o médico solicitou PCR para amostra de lavado broncoalveolar, no qual o
resultado dessa vez deu POSITIVO. Diante desse acontecimento resolvi pesquisar
e encontrei coisas interessantes para compartilhar com os Biomédicos, para que
saibam auxiliar e responder questões recorrentes.
TESTES
DISPONÍVEIS
O
padrão ouro para diagnóstico do SARS-CoV-2 é a reação em cadeia da
polimerase. Porém, outros testes auxiliam na sua detecção. Os
testes disponíveis no mercado atualmente detectam o RNA viral, a partir do
sequenciamento do RNA por técnica de PCR Real Time; pesquisa de antígeno a
partir de imunofluorescência ou pesquisa da produção de anticorpos (IgG e IgM)
de um indivíduo que teve contato com o vírus por imunocromatografia, através de
teste rápidos.
Todo teste utilizado em laboratório deve ter seu registro junto
a ANVISA e ao Ministério da Saúde. Para se obter esse registro é necessária a
apresentação de documentações como a autorização de funcionamento de empresa,
certificação de boas práticas de fabricação, resultados e detalhes dos ensaios
clínicos da fase da pesquisa clínica, detalhes sobre a produção do teste,
validade e estabilidade, além de outros dados que garantem a qualidade e a
capacidade de gerar um resultado clínico
fidedigno.
Amostras utilizadas para análise:
A
amostra escolhida para coleta dependerá do teste que será utilizado e do que se
pretende estudar.
1. Secreções
do trato respiratório superior e inferior:
Para
estudar a presença do antígeno utiliza-se amostras colhidas de trato
respiratório superior (nasal, oral e faríngeo) por swab naso-orofaríngeo, onde
deve-se coletar secreções das duas narinas, utilizando1 swab para cada narina e
1 swab da parte orofaríngea conforme na imagem abaixo:
![]() |
Técnica
para a coleta de swab. Fonte: BRASIL.
Ministério da Saúde. Guia para a Rede Laboratorial de Vigilância de Influenza
no Brasil. 2016.
|
A
coleta deve ser bem realizada, garantindo que todo o swab toque o tecido
correto e carregue uma quantidade adequada de secreções.
Amostras
mais viscosas e espessas podem ser colhidas através de aspirado da nasofaringe,
onde se utiliza solução fisiológica a 0,9% para fluidificar o muco e realizar a
aspiração por nebulização ou instilação,
nessa técnica de coleta faz-se uma introdução de cateter de silicone na região
nasofaríngea até sentir resistência e realiza-se a sucção por material ideal,
essa coleta deve ser realizada por profissional habilitado, geralmente
fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem:
![]() |
Ilustração
da técnica para a coleta de aspirado nasofaríngeo. Fonte: BRASIL. Ministério da
Saúde. Guia para a Rede Laboratorial de Vigilância de Influenza no Brasil.
2016.
|
Essas
amostras são utilizadas para diagnóstico do antígeno. Utiliza-se esses sítios
de coleta, pois a carga viral nesses locais são maiores e a capacidade de
detecção é proporcional. Os testes realizados a partir dessas amostras são: PCR
em tempo real com sequenciamento do RNA viral e imunofluorescência para
pesquisa do vírus como forma de teste rápido.
A
análise de amostras por PCR em tempo real leva entre 4 a 6 horas para a
liberação de resultados e o teste é o mais sensível em relação aos outros. A
técnica de imunofluorescência demora cerca de 30 minutos para liberação do
resultado.
2. Soro,
plasma ou sangue total
Os
testes rápidos disponíveis atualmente no mercado para pesquisa de anticorpos
IgG e IgM utilizam amostras de soro, plasma ou sangue total. Esse tipo de teste
é bastante específico e é realizado pelo método de imunocromatografia.
Nosso
organismo leva alguns dias para produzir os primeiros anticorpos IgM e
posteriormente temos a produção de anticorpos IgG. Cada antígeno é específico a
cada estrutura viral do qual o organismo se expos, esse tempo de produção de
anticorpos interfere diretamente nos requisitos solicitados para se realizar um
teste rápido.
O
teste rápido é indicado para pessoas que possuem sintomas a 10 dias ou mais,
sendo que no décimo dia de sintoma pode-se realizar o teste.
Logo
abaixo segue uma imagem explicativa dos melhores testes para se diagnosticar a
COVID-19 desde os primeiros sintomas:
![]() |
Representação
dos testes laboratoriais para diagnóstico da COVID- 19. Fonte: newslab.com.br.
|
![]() |
Indicação
de teste rápido e produção de anticorpos IgG. Fonte: labornews.com.br.
|
Foram
aprovados recentemente pela ANVISA também, teste de ELISA e imunoensaio
quimioluminescente, onde se utiliza amostras de soro, também para pesquisa de
anticorpos..
Avaliação de novos testes pela ANVISA:
Caso
queiram saber mais sobre a estratégia e as exigências da ANVISA para aprovação
de testes para diagnóstico da SARS – CoV -2
acessem a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 348/2020 clicando aqui.
IMPORTANTE:
Um
resultado negativo não exclui a possibilidade de infecção pelo SARS-CoV-2, é
necessário que seja realizado outro teste podendo ser pela mesmo método de
análise empregado na primeira amostra ou não.
Segundo
a Nota Técnica da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas muitos fatores
interferem nos resultados, como coleta errada, início de sintomas, carga viral
e amostra coletada. Caso o médico ache necessário repetir a análise segundo
discrepância do quadro clínico e um resultado NEGATIVO, deve-se, portanto,
repetir a análise, se possível, em caso de pacientes graves e internados, em
amostras de lavado broncoalveolar colhidas por profissionais habilitados.
Segundo
um estudo disponível no PUBMED:
a sensibilidade de detecção pelo PCR real time em amostras de lavado é de 93%,
escarro 72%, swab nasal 63%, swab orofaringe 32% e sangue de 1%.(JAMA March 11, 2020)
APROVEITEM: O PUBMED ESTÁ LIBERADO PARA
ACESSO A ARTIGOS RELACIONADOS A SARS-CoV-2.
Referências:
·
JAMA
March 11, 2020. doi:10.1001/jama.2020.3786: Detection of SARS-CoV-2 in Different
Types of Clinical Specimens. Acesso em 24/04/2020. Disponível em:<https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2762997?appId=scweb>.
·
Protocololaboratorial para coleta, acondicionamento e transporte de amostras biológicaspara investigação do novo coronavírus (2019-nCov). Versão 06/02/2020. InstitutoAdolfo Lutz.
Texto de autoria de Amanda Sardeli
Alqualo Assaf, biomédica patologista clínica e auditora PALC. CRBM: 28715.
0 comentários :
Postar um comentário