Em 31 de dezembro de 2019, foi relatado o primeiro caso de
infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) em Wuhan, na China. Desde então,
temos acompanhado o crescente número de infecções, e o surto acabou tornando-se
uma epidemia, atingindo também outros países. Cientistas do mundo inteiro, inclusive
os brasileiros, iniciaram uma busca incessante para entender esta nova cepa, e
com isso, desenvolver métodos rápidos de diagnóstico e de prevenção. Até o
momento desta postagem, o cenário é o seguinte:
·
81.311 casos confirmados em todo o mundo, sendo
a maior parte ainda na China.
·
2.770 mortes.
·
30.322 casos de pacientes que se recuperaram.
Hoje, 26 de fevereiro de 2020, foi confirmado o primeiro
caso no Brasil. A vítima é um homem de 61 anos que deu
entrada no Hospital Israelita Albert Einstein, com histórico de viagem para
Itália, região da Lombardia.
Já que estamos diante do problema, o ideal é buscar
informação para que possamos contribuir para que ele não se alastre.
O que
é o Coronavírus?
Os coronavírus são vírus pertencentes à subfamília Coronavirinae,
família Coronaviridae. São grandes vírus com uma única fita de RNA
e um nucleocapsídeo (estrutura composta pelo ácido nucleico do vírus (neste
caso RNA) e seu invólucro proteico, o capsídeo) helicoidal. São comuns em
muitas espécies diferentes de animais, incluindo camelos, gado, gatos e
morcegos. Em humanos, foram isolados pela primeira vez em 1937. Entretanto, foi
em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na
microscopia: foram observadas espículas (estruturas proeminentes) presentes na
superfície do vírus, o que lhe dá a aparência de uma coroa solar (corona em
latim).
Lado esquerdo: ilustração do SARS-COV-2. Lado direito: imagem do SARS-CoV-2 por microscopia eletrônica de transmissão. Vírus isolado
do primeiro caso australiano. Fonte: smh.com.
A infecção pelos tipos alfacoronavírus 229E e NL63 e betacoronavírus
OC43, HKU1 é comum ao longo da vida, mas podem haver doenças mais graves com grande
impacto em termos de saúde pública, como SARS-CoV e MERS-CoV
(Síndrome Respiratória Aguda Grave - SARS, identificada em 2002, e a Síndrome
Respiratória do Oriente Médio - MERS, identificada em 2012; respectivamente), e
agora com esse novo vírus (chamado SARS-CoV-2 causador da "coronavirus disease 2019" ou somente COVID-19).
O
sequenciamento genético realizado logo após a descoberta do novo vírus sugere
que o SARS-CoV-2 é um betacoronavírus, como MERS-CoV e SARS-CoV. Segundo a
OMS, esses três tipos têm origem em morcegos.
Gravidade
da doença
Até a última atualização do CDC, em 25/02/2020, sabe-se
pouco sobre a COVID-19. O que temos até agora é a sua semelhança aos já
conhecidos MERS-CoV e o SARS-CoV, que causam doenças graves em humanos.
Entretanto, o quadro clínico completo em relação à COVID-19 não está totalmente
esclarecido. As doenças relatadas variaram de leves a graves, incluindo
doenças que resultam em morte. Segundo o CDC, “existem investigações em
andamento para saber mais. Esta é uma situação em rápida evolução e as
informações serão atualizadas à medida que estiverem disponíveis”. Não é possível
definir com certeza a taxa de letalidade por alguns indivíduos não apresentarem
sintomas e, portanto, não haver diagnóstico. De qualquer forma, considera-se a
taxa mais elevada do que a gripe comum, e os casos de morte descritos foram em
população idosa com doença com alguma comorbidade pré-existente.
Transmissão
e propagação da doença
No início, acreditava-se somente na disseminação de animais para
pessoas, pois os primeiros pacientes que apresentaram os sintomas tinham
ligação com mercado de frutos do mar e animais vivos na China. Entretanto,
devido ao crescente número de pacientes, incluindo pessoas de outros países
como Estados Unidos que não tinham qualquer relação com estes mercados, pode-se
sugerir a disseminação de pessoa para pessoa.
Já está confirmada a transmissão do vírus pelo ar ou por
contato com secreções, como gotículas de saliva e catarro, ou seja, ele pode
ser transmitido por espirros ou tosse. Além disso, segundo a OMS, o contato pessoal
próximo ou com superfícies contaminadas também deve ser considerado, desde que
o indivíduo toque suas mucosas (boca, nariz ou olhos) sem antes higienizar as
mãos. É importante ressaltar que até o momento, é seguro receber encomendas da
China ou de outro país que já notificou casos confirmados. Por experiência
com outros coronavírus, sabe-se que esses tipos de vírus não sobrevivem
por muito tempo em objetos, como cartas ou pacotes.
O período médio de incubação por coronavírus é de 5 dias,
com intervalos que chegam a 12 dias, período em que os primeiros sintomas levam
para aparecer desde a infecção. Acredita-se que indivíduos que apresentam
sintomas mais fortes sejam mais contagiosos, mas já foram relatados casos de
propagação através de indivíduos assintomáticos. Por isso, até o momento, não
há informações suficientes de quantos dias anteriores ao início dos sinais e
sintomas uma pessoa infectada passa a transmitir o vírus.
Como é
feito o diagnóstico?
Embora o quadro clínico completo
não esteja totalmente elucidado, o diagnóstico clínico inicial se dá analisando
características de uma síndrome gripal (casos iniciais leves, subfebris, podem
evoluir para elevação progressiva da temperatura e a febre ser persistente além
de 3-4 dias, ao contrário do descenso observado no caso de Influenza) e histórico
de viagens e/ou contato com viajantes para o exterior. Essas informações devem
ser registradas no prontuário do paciente para eventual investigação
epidemiológica.
Para o diagnóstico laboratorial, são feitas coletas de materiais
respiratórios. Orienta-se a coleta de aspirado de nasofaringe (ANF) ou swabs
combinados (nasal/oral) ou também amostra de secreção respiratória
inferior (escarro ou lavado traqueal ou lavado bronca alveolar). O padrão
ouro para a identificação do SARS-CoV-2, é a RT-PCR em tempo real, e
sequenciamento parcial ou total do genoma vira, a serem realizados nos Centros
Nacionais de Influenza (NIC - sigla em inglês para National Influenza Center),
que são referências para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACEN) de
cada estado, conforme detalhado abaixo:
· LACEN AL,
BA, ES, MG, PR, RJ, RS, SC e SE: Laboratório de Vírus Respiratórios e
Sarampo da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ/RJ);
· LACEN AC, AM, AP, CE, MA, PA, PB, PE, RN, RR: Laboratório de Vírus Respiratórios do
Instituto Evandro Chagas (IEC/SVS/MS);
· LACEN DF, GO, MT, MS, PI, RO, SP, TO: Laboratório de Vírus Respiratórios do Instituto Adolfo
Lutz (IAL/SES-SP).
Os detalhes sobre coleta de amostra, acondicionamento,
transporte, laboratórios e fluxos estão descritos no último BoletimEpidemiológico 03 (Ministério da Saúde), divulgado em 21 de fevereiro de 2020.
Não
existe tratamento específico para infecções causadas por coronavírus humano. No
caso da COVID-19 é indicado repouso e consumo de bastante água, além de algumas
medidas adotadas para aliviar os sintomas, conforme cada caso, como, por
exemplo:
· Uso de medicamento para dor e febre (antitérmicos e
analgésicos).
· Uso de umidificador no quarto ou tomar banho
quente para auxiliar no alívio da dor de garanta e tosse.
Assim
que os primeiros sintomas surgirem, é fundamental procurar ajuda médica
imediata para confirmar diagnóstico e iniciar o tratamento.
Todos
os pacientes que receberem alta durante os primeiros 07 dias do início do
quadro (qualquer sintoma independente de febre), devem ser alertados para a
possibilidade de piora tardia do quadro clínico e sinais de alerta de
complicações como: aparecimento de febre (podendo haver casos iniciais sem
febre), elevação ou reaparecimento de febre ou sinais respiratórios,
taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos), dor pleurítica (dor no peito),
fadiga (cansaço) e dispneia (falta de ar).
O
Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de
contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o novo
coronavírus. Entre as medidas estão:
As vacinas
da gripe e pneumococo protegem contra o SARS-CoV-2?
Não.
A vacina disponível atualmente previne contra outros tipos de vírus. Sua
formulação contém proteínas de diferentes cepas do vírus Influenza
definidas ano a ano conforme orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS),
que realiza a vigilância nos hemisférios Norte e Sul. Existe vacina trivalente,
com duas cepas de vírus A e uma cepa de vírus B, e vacina quadrivalente, com
duas cepas de vírus A e duas cepas de vírus B.
De qualquer forma, esta vacina contribui para reduzir a
circulação dos agentes no meio ambiente, o que ajuda a proteger também aqueles
que não podem ser vacinados. Mesmo não sendo eficaz contra os tipos de
coronavírus, principalmente SARS-CoV-2, o quadro clínico é o mesmo, e a
vacinação já existente ajuda no diagnóstico diferencial dos casos.
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Bônus:
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aqui você pode acompanhar em tempo real o avanço do vírus pelo mundo.
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Fontes:
Xu J. et
al. Systematic Comparison of Two Animal-to-Human Transmitted Human
Coronaviruses: SARS-CoV-2 and SARS-CoV. Viruses, 12, 244. 2020.
Amei a postagem. Bem completa. Obrigada pelas informações 😃
ResponderExcluirObrigada Amanda! Fico feliz que tenha gostado!
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