O Papanicolau é um exame ginecológico
rotineiro para todas as mulheres. Recebeu este nome em homenagem ao seu
criador, o médico George Papanicolaou. Trata-se de um procedimento rápido e
simples, além de ser de grande importância para detectar várias doenças, entre
elas o câncer de colo de útero, via análise das células, e o vírus HPV, seu
principal causador. Cerca de 18 mil mulheres são diagnosticadas anualmente com
esse tipo de câncer.
Mas um estudo de pesquisadores
americanos da Universidade Johns Hopkins, do Instituto Ludwig e do centro
Memorial Sloan-Kattering, e brasileiros do Icesp (Instituto do Câncer do Estado
de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), publicado na revista científica "Science
Translational Medicine" mostra uma nova visão para este exame tão comum:
agora o Papanicolaou poderá detectar também o câncer de ovário e do corpo do
útero.
Com a implantação do exame, os casos
de morte por câncer de colo do útero e HPV caíram aproximadamente 75%. Porém, o
sucesso não foi o mesmo com o câncer de endométrio e de ovário. Os métodos
utilizados para a detecção do câncer ovariano são menos eficazes, e algumas
vezes podem trazer malefícios, como coloca Jesus Paula
Carvalho, professor da USP, pesquisador do Icesp e um dos autores do estudo: "Na
maioria dos casos, o diagnóstico é tardio e os métodos de rastreamento atuais,
como as biópsias, são invasivos e trazem mais riscos do que benefícios".
Realizou-se o sequenciamento de DNA de
células obtidas no exame, e observou-se um sucesso de 100% no que se refere ao
câncer de endométrio e 41% de sucesso para o câncer ovariano, sendo que não houve
resultados falso-positivos.
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(Foto: Folha de São Paulo - online) |
No exame tradicional, as células do
colo do útero são recolhidas através de esfregaço, para que sejam analisadas em
laboratório. Como se sabe, o endométrio e os ovários ficam acima da região
examinada, porém as células cancerosas desenvolvidas nesses locais acabam
caindo no colo do útero. E são essas células soltas o alvo do novo teste. A
nova técnica recebeu o nome de PapGene, e permitirá um diagnóstico precoce também
para estes tipos de câncer. O método continua pouco invasivo, e somente a “análise
genética molecular em células do ovário e do corpo do útero” foi agregada à
amostra contendo o fluido uterino colhido no procedimento.
Inicialmente, os pesquisadores
analisaram o DNA de cânceres de ovário e endométrio de 46 pacientes de
hospitais universitários, através de amostras de biópsias tumorais americanas e
brasileiras. Ao comparar com o código genético de células normais,
identificou-se 12 genes com mutações que indicam a ocorrência desses tumores. “O
teste de DNA foi capaz de identificar o câncer de endométrio em todas as 24
mulheres com a doença. Para o câncer de ovário, a reposta não foi tão eficaz, 9
das 22 pacientes tiveram o câncer detectado.”
Em entrevista à Folha de São Paulo, o
pesquisador do Hospital A. C. Camargo, Emmanuel Dias-Neto disse com empolgação:
"a medicina genômica veio para ficar, pois é mais barato detectar
precocemente via DNA do que tratar a doença".
Outros tipos de cânceres logo poderão
ser detectados por técnicas similares, utilizando a genética molecular: "Em
cinco anos tais técnicas estarão tão baratas a ponto de poderem ser agregadas
ao SUS" diz Emmanuel.
A descoberta precoce da doença,
resulta em uma chance de sobrevida de cinco anos da paciente de até 90%. Já se
for identificado somente em estágio avançado, essa chance de sobrevida cai para
34% (dados da revista Ciência Hoje).
Os testes continuarão, agora com mais
pacientes, para que os resultados sejam confirmados. Acredita-se que o novo
teste esteja disponível no Brasil em dois ou três anos, custando
aproximadamente R$ 200,00 (valor cobrado para fazer um teste genético para
detectar HPV nos EUA, que é atualmente gratuito pelo SUS). Apesar de ser mais
caro que os exames de rotina, acredita-se que o PapGene será adotado pelos
sistemas de saúde “se os recursos forem bem direcionados”.
Fontes: Folha de São Paulo
Agradecimento à leitora do blog Ana Paula Moreira, pela indicação de postagem.
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