Enquanto o mundo está paralisado por
um novo vírus da gripe aviária, o H7N9, que se espalha pela China, um estudo lembra-nos
que outro vírus da gripe (H5N1) ainda representa uma ameaça de
pandemia.
Cientistas na China criaram um vírus híbrido
pela mistura de genes de H5N1 (vírus da gripe aviária), com a cepa do H1N1 (vírus
da gripe suína). O resultado mostrou que este híbrido é capaz de se disseminar
facilmente pelo ar entre cobaias, através de gotículas respiratórias, e agora é mantido no freezer de um laboratório. Com isso, a equipe chinesa
indicou ter provado que o vírus mortal H5N1 pode precisar apenas de uma simples
mutação genética para “adquirir transmissibilidade entre mamíferos”. "Se esses vírus H5N1 que foram
transmitidos a mamíferos são gerados na natureza, uma pandemia será muito
provável", diz Hualan Chen, virologista do Instituto Harbin de
Investigação Veterinária da Academia Chinesa de Ciências, que liderou o estudo.
Jeremy Farrar, diretor da Unidade de
Pesquisa da Oxford University Clinical em Ho Chi Minh City, Vietnã, afirma que “é
um trabalho notável e mostra claramente como a circulação contínua de cepas do
H5N1 na Ásia e no Egito continua a constituir uma ameaça muito real para a
saúde humana e animal".
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Foto (REPRODUÇÃO): Nature. Infecção das vias aéreas pelo híbrido criado em laboratório da China. |
Transmitido às pessoas pelas aves, o
H5N1 é letal em 60% dos casos, mas não é transmitido entre humanos,
característica que até agora evitou uma pandemia (clique aqui e saiba mais) . Alguns argumentam que estudos
híbridos como este esclarecem como o vírus consegue sofrer mutação na natureza
para causar uma epidemia humana, e podem ajudar às pessoas a se preparar.
Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o H5N1 infectou 628 pessoas e matou 374 desde 2003. O H1N1, que
surgiu no México, é altamente transmissível e infectou um quinto da população
mundial em uma pandemia registrada entre 2009 e 2010. Híbridos de gripe podem surgir naturalmente
quando duas cepas virais infectam a mesma célula e trocam seus genes. Este
processo, conhecido como rearranjo (ou reagrupamento), produziu as estirpes
responsáveis por pelo menos três tipos de gripes anteriores, incluindo o de
2009. Entretanto, não existem evidências de que o H1N1 e o H5N1 tenham feito
isso até agora.
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Este estudo está gerando grande
alvoroço na comunidade científica, pois alguns observadores temem que a ciência
esteja colocando a humanidade em risco ao criar tais mutantes. “Estes vírus feitos
pelo homem nunca estiveram na natureza. Agora estão armazenados em um freezer”,
disse à AFP o professor de virologia Simon Wain-Hobson, do Instituto Pasteur,
da França. Wain-Hobson citou um vazamento em laboratório de febre aftosa, uma
doença que afeta o gado e que causou um surto na Grã-Bretanha seis anos atrás.
Não está claro como os resultados se
aplicam aos seres humanos. Porém, Wain-Hobson e outros cientistas temem
que o risco possa ser ainda maior que o valor científico da pesquisa. Seus
argumentos se baseiam em que a pesquisa têm pouco valor para a descoberta de
uma vacina ou de um tratamento que levaria anos para desenvolver, provavelmente
muito antes de um surto.
O virologista John Oxford, da
Universidade Queen Mary, de Londres, no entanto, disse que o experimento era um
alerta importante. Ele demonstrou como dois vírus, ambos que ainda infectam
pessoas ao redor do mundo, podem trocar genes.
“A matemática dirá que cedo ou tarde
uma pessoa será coinfectada”, afirmou, provavelmente levando a um vírus híbrido
“que começará a se disseminar”. “Precisamos nos reorganizar, rever nossos
planos de pandemia e estar certos de que temos estoques de vacina para o H5N1″,
afirmou o virologista.
"Eu acredito que essa pesquisa é
fundamental para a nossa compreensão da gripe", diz Farrar."Mas esse
tipo de trabalho, em qualquer lugar do mundo, precisa ser bem regulado e
conduzido nas instalações mais seguras, que são registrados e certificados para
um padrão internacional comum".
E os cientistas não sabem se os vírus
híbridos são tão mortais como o H5N1. Os híbridos não mataram nenhuma das
cobaias, mas segundo Chen, os roedores utilizados na pesquisa não são bons
modelos para patogenicidade em humanos. Segundo ele, há também a possibilidade
de que diante a exposição mundial ao H1N1, a população já tenha criado certa
imunidade contra a infecção do H5N1. Isto foi baseado em pesquisas anteriores
que mostraram que vacinas contra o H1N1 promoveram alguma proteção contra o
H5N1 em camundongos.
"Se você pegar anticorpos de
pessoas que tenham sido vacinadas ou infectadas naturalmente, será que eles
reagem de forma cruzada com estes vírus?", questiona Stacey
Schultz-Cherry, virologista do Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude, em
Memphis, Tennessee. "É um estudo importante que precisa ser
feito.".
Entretanto, a preocupação de pandemia
agora é com o H7N9. A pesquisa sobre o vírus H5N1 vai ter que esperar.
Fontes:
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(Artigo original) |
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