Em 2011 o mundo acompanhou a crise
europeia da cepa de E. coli O104:H4.
A infecção causa um conjunto de sinais e sintomas denominado Síndrome
Hemolítica Urêmica (SHU). Conheça mais sobre ela.
Segundo o Centers for Disease
Control and Prevention (CDC), é uma doença caracterizada pela trombocitopenia (contagem de
plaquetas inferior a 150.000/mm3), anemia com sinais de hemólise
microangiopática (alterações ao nível dos pequenos vasos sanguíneos) e
lesão renal aguda evidenciada por hematúria, proteinúria ou aumento do nível
sérico de creatinina. Pode cursar também com disfunções neurológicas e hipertensão
arterial, em diversos graus, e há também a SHU típica e a atípica (SHUa).
A síndrome atinge, sobretudo crianças entre os 6 meses e os 5 anos
de idade, com incidência de 2,1 por cem mil habitantes por ano, causando insuficiência
renal aguda durante a infância.
Atualmente, a principal causa da SHU é a infecção gastrointestinal por
uma cepa Escherichia Coli enterohemorrágica
encontrada frequentemente no intestino dos animais, sobretudo nos ruminantes.
Ela produz toxinas do tipo Shiga (verotoxinas), por sua semelhança com as
toxinas produzidas pela Shigella
dysenteriae, que dão origem a um quadro de diarreia, geralmente hemorrágica,
além de cólicas abdominais, febre e vômito. As toxinas alcançam a corrente
circulatória e unem-se ao receptor GB3 (globotriaosilceramida), presente em
vários epitélios (especialmente no endotélio glomerular renal). Há um
bloqueamento da síntese de proteínas que leva ao dano e, eventualmente, morte
celular. As células endoteliais glomerulares esfacelam-se, ativando e agregando
as plaquetas. Daqui deriva a lesão de microangiopatia trombótica.
Infográfico - Infecção pela E.coli (Fonte: Estadão.com) |
As complicações extra renais, apesar de menos frequentes, podem
ocorrer. São do tipo neurológico (convulsões, acidentes vasculares cerebrais e
coma) em 25% dos casos, e sequelas renais crônicas, geralmente leves, em
aproximadamente 50% dos sobreviventes.
A doença pode ser transmitida ao ser humano principalmente
através do consumo de alimentos contaminados, tais como carne picada
crua ou pouco cozida, leite sem ferver, água contaminada, contato direto
com animais ou contato com pessoas infectadas.
Diagnóstico laboratorial e Tratamento
O diagnóstico é realizado através de exames laboratoriais de sangue para
verificar a presença de anemia microangiopática e também para avaliar a taxa de
função renal. Além disso, pode ser realizada a identificação da bactéria Escherichia Coli por
meio da coprocultura. A urina 1 não apresenta alterações.
O
tratamento da insuficiência renal aguda inclui a manutenção do equilíbrio
hidroeletrolítico, terapia anti-hipertensiva e dieta pobre em sal (se houver
hipertensão), além do início de terapia dialítica, quando apropriado. O tempo
médio de diálise é de 10 a 32 dias, e tanto a diálise peritoneal como a
hemodiálise têm sido usadas quando há falência renal importante na fase aguda.
A plasmaferese tem sido comprovadamente
eficaz em adultos com SHU, porém a sua eficácia em crianças ainda não foi
provada. Também quando existe comprometimento neurológico na fase aguda da
doença, a plasmaferese está indicada. Este tratamento e a transfusão de plasma
fresco correspondem à primeira linha de tratamento se houver diagnóstico de
SHUa, apesar de ainda existirem debates quanto à eficácia, uma vez que não
existem estudos controlados e randomizados sobre o assunto. Há indícios de que
a plasmaferese é mais eficaz do que a infusão de plasma fresco, já que ocorre a
remoção de toxinas envolvidas na patologia da doença, além de que há transfusão
de maior volume de plasma.
Na SHUa, a desregulação da via alternativa
do complemento conduz a uma ativação incontrolada deste, que provoca danos,
como já foi supramencionado. Neste sentido, o bloqueio do complemento terminal
com eculizumab (é um anticorpo monoclonal que se dirige contra a fração C5 do sistema complemento), reduz rapidamente o processo, havendo múltiplos
casos publicados em que se observou uma boa resposta clínica ao fármaco.
Há medidas preventivas que podem ser
adoptadas: nos países desenvolvidos, a infecção por toxinas provenientes da Escherichia coli deve ser
notificada às autoridades de saúde, no sentido de identificar prováveis focos
de contaminação e evitar surtos da doença e as suas complicações.
Informações: Portal da diálise / OPAS
Matéria sobre a crise alemã no Biomedicina em Ação (2011): Escherichia coli - A crise alemã
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