O teste de sensibilidade a antimicrobianos (TSA) é,
geralmente, o último passo de um exame microbiológico. Ele auxilia na escolha
do antibiótico a ser administrado ao paciente pela equipe médica. Além disso, o
TSA é importante para o monitoramento da evolução da resistência bacteriana e
ajuda a evitar a disseminação de bactérias multirresistentes. O TSA deve ser
realizado com bactérias previamente isoladas de amostras clínicas
representativas, que indiquem um processo infeccioso, no qual a sensibilidade e
resistência dos antimicrobianos não é previsível.
Segundo o Manual da Anvisa, O TSA deve ser sempre
realizado na avaliação destas bactérias:
·
Enterobactérias;
·
Pseudomonas spp.,
·
Acinetobacter spp.;
·
Staphylococcus spp.;
·
Enterococcus spp.;
·
Streptococcus pneumoniae;
·
Streptococcus do grupo viridans
e beta-hemolítico;
·
Haemophilus influenzae;
·
Complexo Burkholderia cepacia;
·
Stenotrophomonas maltophilia;
·
Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis
Os antimicrobianos a serem testados devem ser
adequados à bactéria, ao tipo de hospital e instituição. A decisão de quais
antibióticos testar não deve ser somente do laboratório, mas uma decisão
conjunta com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), a farmácia
do hospital, o corpo clínico e o laboratório de microbiologia.
Para a realização do antibiograma (TSA), se faz
interessante que conheçamos as principais classes de antimicrobianos, e a
resistência intrínseca de algumas bactérias. Isso, sem dúvidas, é algo bastante
importante e é a parte mais difícil da realização exame.
Mas o Biomedicina em Ação te ajuda com isso! Senta
aí, pega um café, que a nossa conversa vai ser longa!
Antes de tudo...
O que é um antibiótico?
O antibiótico é um composto natural capaz de matar ou inibir o crescimento de microrganismos. Eles podem ser bactericidas e/ou bacteriostáticos, nomes respectivos das duas ações citadas anteriormente. Eles são divididos em classes, que serão descritas a seguir.
Betalactâmicos
Este grupo de antimicrobianos possui em comum no seu
núcleo estrutural o anel betalactâmico, conferindo a ele atividade bactericida.
São usados para tratar um largo espectro de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Dentro
dos betalactâmicos, há subgrupos, tais como: penicilinas, cefalosporinas, penens,
monobactans. Podem estar associados também a inibidores de betalactamase.
Betalactamase são enzimas produzidas por algumas
bactérias, responsáveis por conferir resistência a antibióticos betalactâmicos.
A enzima quebra o anel da estrutura química do antibiótico, desativando a
atividade bactericida do mesmo.
O mecanismo de ação dos betalactâmicos resulta em
parte da sua interferência com a síntese do peptideoglicano (responsável pela
integridade da parede bacteriana). Para
que isso ocorra, os betalactâmicos devem penetrar através das porinas da
membrana externa da parede celular, não devem ser destruídos pelas betalactamases
produzidas pelas bactérias, e devem ligar-se e inibir as proteínas ligadoras de
penicilina (PBPs, penicillin-binding proteins) responsáveis pelo passo final da síntese da parede bacteriana.
Os mecanismos de resistência podem ocorrer pela
produção de betalactamases (mecanismo mais eficiente), modificações estruturais
das PBPs ou diminuição da permeabilidade bacteriana ao antibiótico por mutação
das porinas.
Penicilinas
As penicilinas foram descobertas por Fleming, em
1928.
As subclasses das penicilinas e seus respectivos exemplos são:
·
Penicilinas
lábeis: Penicilina G.
·
Penicilinas
estáveis: Oxacilina, Meticilina, Naftcilina, Dicloxacilina, Cloxacilina.
·
Aminopenicilinas:
Ampicilina, Amoxicilina.
·
Carboxipenicilinas:
Carbenicilina, Ticarcilina.
·
Ureidopenicilinas:
Piperacilina, Mezlocilina, Azlocilina.
·
Amidinopenicilina:
Mecilanam.
-------------------------------------------------
Betalactâmicos + inibidores de
betalactamases
Algumas bactérias têm a capacidade de produzir
betalactamases, que vão quebrar o anel betalactâmico do antibiótico. Assim, a
associação com inibidores dessa enzima se faz muito interessante. Eles
funcionam como um “escudo”, e se ligam à enzima, impedindo a quebra do anel.
·
Amoxicilina/ácido
clavulânico.
·
Piperacilina/tazobactam.
·
Ampicilina/sulbactam.
·
Ticarcilina/ácido
clavulânico.
-------------------------------------------------
Cefens
São antibióticos de largo espectro, ou seja, atingem
grande número de microrganismos nas doses terapêuticas, e são
representados principalmente pelas cefalosporinas. Essa classe de antibióticos
costuma ser a parte mais difícil de memorização quando se estuda antibióticos,
pelos nomes muito parecidos, e pelas gerações das cefalosporinas.
Mas o que são
essas gerações?
Referem-se à atividade antimicrobiana e características
farmacêuticas e farmacodinâmicas. Ao contrário do que parece (e do que muitos
pensam), não se trata da necessariamente da cronologia de comercialização das
cefalosporinas.
Vamos então às gerações:
·
Cefalosporinas de 1ª geração:
Essa subclasse é muito ativa contra cocos
gram-positivos e têm atividade moderada contra E. coli, Proteus
mirabilis e K. pneumoniae adquiridos na comunidade.
Não têm atividade contra H. influenzae e não agem contra estafilococos resistentes à oxacilina, pneumococos resistentes à penicilina, Enterococcus spp. e anaeróbios.
Podem ser usadas durante a gestação e são apropriadas no tratamento de infecções causadas por S. aureus sensíveis à oxacilina e estreptococos, mais comumente em infecções de pele, partes moles, faringite estreptocócica.
Não têm atividade contra H. influenzae e não agem contra estafilococos resistentes à oxacilina, pneumococos resistentes à penicilina, Enterococcus spp. e anaeróbios.
Podem ser usadas durante a gestação e são apropriadas no tratamento de infecções causadas por S. aureus sensíveis à oxacilina e estreptococos, mais comumente em infecções de pele, partes moles, faringite estreptocócica.
As principais são:
Ø Cefalotina.
Ø Cefapirina.
Ø Ceftazolina (baixo custo, baixa toxicidade, meia
vida prolongada – indicada para profilaxia de várias cirurgias).
Ø Cefradina.
Ø Cefdroxil.
Ø Cefalexina.
·
Cefalosporinas de 2ª geração:
Em relação às de primeira geração, apresentam uma
maior atividade contra H. influenzae, Moraxella catarrhalis, Neisseria
meningitidis, Neisseria gonorrhoeae e em determinadas circunstâncias
aumento da atividade “in vitro”
contra algumas Enterobacteriaceae. Algumas
principais são:
Ø Cefoxitina (cefamina).
Ø Cefuroxima.
Ø Cefaclor
Ø Cefotetan.
Ø Ceftametazol.
*Informação bônus: a cefoxitina
(CFO) é um forte indutor da produção de betalactamase e, portanto, pode ser
utilizada como marcador de bactérias ESBL positivas (trataremos desta
resistência em outra postagem).
ESBL positiva = CFO sensível.
ESBL negativa = CFO resistente.
·
Cefalosporinas de 3ª geração:
São mais potentes contra bacilos gram-negativos
facultativos, usadas no tratamento de diversas infecções adquiridas em ambiente
hospitalar. Têm atividade antimicrobiana superior contra S. pneumoniae (incluindo
aqueles com sensibilidade intermediária às penicilinas), S. pyogenes e
outros estreptococos. Com exceção da ceftazidima, apresentam atividade
moderada contra os S. aureus sensível à oxacilina, por outro
lado, somente a ceftazidima tem atividade contra P. aeruginosa.
No Brasil, essas cefalosporinas estão disponíveis na apresentação parenteral (por
injeção ou infusão). Algumas principais são:
Ø Ceftriaxona
Ø Cefotaxima
Ø Ceftazidima
·
Cefalosporinas de 4ª geração:
Possuem atividade sobre bactérias gram-negativas,
incluindo atividade antipseudomonas, além de apresentarem atividade contra
cocos gram-positivos, especialmente estafilococos sensíveis à oxacilina. Atravessa
as meninges quando inflamadas e também são resistentes às betalactamases e
pouco indutoras da sua produção. Assim, são usadas para o tratamento de
pneumonias hospitalares, infecções do trato urinário graves e meningites por
bacilos gram-negativos. Além disso, faz parte do esquema empírico usado nos
pacientes granulocitopênicos febris.
No Brasil, a cefepima está disponível.
Na classe dos Cefens, há ainda as cefalosporinas com
atividade anti-MRSA, Oxacefem e Carbacefem.
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Monobactâmicos
Os monobactâmicos são caracterizados por um anel
monocíclico, e possuem ação bactericida (matam a bactéria), como as penicilinas
e as cefalosporinas (que interferem na síntese da parede bacteriana). No
Brasil, o antibiótico representante da classe é o aztreonam, e é usado
para o tratamento de infecções do trato urinário, bacteremias, infecções pélvicas,
intra-abdominais e respiratórias.
O aztreonam não deve ser usado como monoterapia empírica
de pacientes com suspeita de infecções por cocos gram-positivos e/ou
anaeróbios, além de infecções graves por Pseudomonas
aeruginosa.
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Penems
Esta é uma classe de fácil memorização para o nosso
estudo. A classe dos penems é subdivida em carbapenens e penems. Entretanto, o
que mais se fala são os carbapenêmicos (carbapenens), sendo os principais,
disponíveis nos EUA, Europa e Brasil: imipenem, meropenem e ertapenem. Eles apresentam
amplo espectro de ação para uso em infecções sistêmicas e são estáveis à
maioria das betalactamases.
Em relação à atividade antimicrobiana, o meropenem é
um pouco mais ativo contra bactérias gram-negativas. Em contrapartida, o imipenem apresenta
atividade um pouco superior contra gram-positivos. O ertapenem não tem
atividade contra P. aeruginosa e A.baumannii.
Pode ocorrer de haver amostras sensíveis a um
carbapenêmico e resistentes a outro. Isso ocorre raramente, mas envolve as
porinas e tem sido descrito principalmente em cepas de P. aeruginosa.
Aproveitando o assunto, não podemos deixar de citar
as superbactérias KPC. São bactérias que apresentam resistência aos
carbapenêmicos e aos demais betalactâmicos. Essa resistência foi encontrada
inicialmente em isolados de Klebsiella
pneumoniae, mas já foi documentada em diferentes enterobactérias, como Salmonella enterica, Enterobacter sp,
Enterobacter cloacae e na própria Klebsiella
pneumoniae, que pode agir como uma bactéria oportunista em pacientes graves
no ambiente hospitalar.
No Brasil, o primeiro relato desse novo mecanismo de
resistência ocorreu em 2005, em Recife (PE), e estava relacionado à bactéria Klebsiella pneumoniae. Atualmente o
tratamento dos pacientes é realizado com os antibióticos Polimexina B e
Colistina (Lipopeptídeos, classe de antibióticos que ainda será descrita no
blog).
Para terminar, aquele vídeo esperto!
Por esse post é só! Continue acompanhando o blog
para a continuação das outras classes de antibióticos. Até logo!
Fontes:
Oplusttil, C. P. et al. Procedimentos básicos em microbiologia clínica. 3
ed. São Paulo : SARVIER, 2010.
Enzima KPC: entenda o que é. ANVISA.
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