Pesquisadores norte-americanos e
brasileiros testam com sucesso a eficácia de linfócitos T no combate ao HIV
Matéria publicada na revista FAPESP em outubro de 2012, traz uma nova
abordagem ainda em estudo ao combate do vírus do HIV, a matéria escrita
por Maria Guimarães, trata de aspectos
sobre o vírus e sobre o sistema imunológico, devido a sua importância e também
como uma maneira de revisar alguns conceitos em imunologia o Blog Biomedicina
em Ação resolveu postar a matéria na íntegra, espero que possa ajudar a todos e
com certeza trazer uma nova esperança a esse temido vírus que a décadas vem
assombrando a humanidade.
Segue abaixo o texto na íntegra:
Na guerra contra o HIV, vírus que causa a Aids, a busca por desenvolver
uma vacina costuma se concentrar nos anticorpos, as proteínas do sistema
imunológico responsáveis por atacar invasores. Um grupo de pesquisadores
norte-americanos e brasileiros pode ajudar a mudar esse panorama – ou pelo
menos ampliá-lo –, de acordo com resultados publicados neste domingo (30/9) na Nature.
Eles mostraram que um tipo específico de linfócitos T – as células que
orquestram o combate a infecções – tem um papel importante no combate aos vírus
e estimular a sua produção pode vir a ser uma arma eficaz.
As estrelas do estudo são as células T
CD8+, responsáveis por controlar a carga viral nos pacientes conhecidos como
“controladores de elite” – pessoas que, apesar de infectadas com o HIV, não
desenvolvem os sintomas da doença. “Uma em cada 300 pessoas infectadas consegue
controlar a replicação do vírus”, explica o patologista David Watkins, da
Universidade de Miami, coordenador do estudo. Em 70% dessas pessoas, segundo
ele, é possível detectar uma assinatura genética especial, que agora se sabe
estar relacionada ao funcionamento das células CD8. Falta ainda entender
exatamente como funciona essa relação.
O importante é que esses linfócitos conseguem, por meio de uma ação
tóxica, aniquilar as células do organismo invadidas pelo HIV. “O vírus precisa
de células para se replicar, e as CD8 matam essas fábricas”, explica o
pesquisador norte-americano, fluente em português graças a uma longa e
frutífera colaboração com colegas brasileiros.
Um vírus aparentado ao que causa Aids em seres humanos, o vírus da
imunodeficiência símia (SIV), foi usado para testar a eficácia dessas células
imunológicas. Nas mãos da geneticista Myrna Bonaldo, do Instituto Oswaldo Cruz
(Fiocruz), no Rio de Janeiro, a vacina contra febre amarela produzida na
própria instituição ganhou fragmentos de DNA do SIV e foi aplicada em macacos
rhesus infectados. O resultado foi marcante: “todos os macacos estão
conseguindo controlar a replicação do vírus”, comemora Watkins. A eficácia é um
mistério, porque nem todos os controladores de elite humanos conseguem combater
tão bem a infecção. “Precisamos entender como isso funciona antes de podermos
pensar numa vacina contra Aids”, ele completa, cauteloso.
Para o norte-americano, a colaboração com o grupo carioca é essencial
pela experiência em produzir uma vacina segura que já imunizou mais de 400
milhões de pessoas. “A Fiocruz é líder nessa área, está produzindo a maior
parte da vacina contra febre amarela usada no mundo”, afirma. O segredo do
sucesso deve estar, em sua opinião, no fato de ser uma vacina viva, com vírus
ativos embora atenuados – e por isso incapazes de causar a doença. Algum
elemento dessa atividade viral, que ainda precisa ser desvendado, pode também
ser responsável pelo sucesso da vacina modificada em ajudar os macacos a
combaterem o SIV.
“Nosso estudo aponta um novo caminho possível, não mais focado em
anticorpos, mas em controle da replicação do vírus mediante a indução da
produção de células T CD8 protetoras pelo organismo”, explicou Myrna à
assessoria de imprensa da Fiocruz. “É como se, na rodovia do estudo de vacinas
para a Aids, estivéssemos fixando uma placa nova, apontando para um novo
caminho, baseado na abordagem celular.”
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